Semana passada fiz uma oficina de dramaturgia com o Marcio Abreu, ali na Companhia Brasileira de Teatro, e ele propôs um exercício interessante. Seria uma entrevista relâmpago com algum dos nossos colegas e, munidos desta informação, escreva um texto rápido. O resultado do exercício está aqui:
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Quase uma estranha novidade dormir cedo. Acordar cedo, mais bizarro ainda. Nem acredito que o workshop – oficina? – começou falando sobre isso. Falava sobre a dificuldade de começar. Falava sobre isso. Hoje foi difícil começar.
Cedo, acordei, Tava dormindo com a camiseta de um vereador, uma campanha há tanto tempo atrás que é provável que ele esteja morto… ou honesto. Saio da cama pra fazer café. Frio. Frio em dezembro. Mas é Curitiba, eu deveria prever que isso sempre é possível aqui.
O café está pronto. “Agora o leite”, me lembra a gastrite.
– Você achou que eu ia esquecer?
– Não custa falar. Vai que hoje, por causa do frio…
– É muito cedo pra você duvidar de mim.
– Desculpa… Bom dia.
– Bom dia.
Volto e arrumo a roupa sobre a cama. Banho bem quente. A gastrite agradece e se acalma. Saio, me troco. Estou pronto. Só falta um único desafio. O gato.
Ele mora no meu apartamento, contra a minha vontade. Estou de blusa preta e, antes que possa refrear minha imaginação, já aciciono a blusa, mais o pêlo, mais a alergia, mais o ódio ao gato.
Vou checar os emails. Isso adia o desafio. Quem sabe, Aliás, que horas começa o curso mesmo? Veja no email. Às nove. Isso. Saio do quarto. Não há gato.
– Ele está no quarto do lado. A porta tá fechada. Aproveita.
– Pensei que você estivesse dormindo.
– Quando você se preocupa…
Saio para caminhar pela Comendador Franco. Ops! Araújo. Comendador Araújo. Sem pêlos de gato, com a energia do café e da torinha de banana. O dia já pode começar.
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