
Os torcedores começam na minha família. Se tal time perde, eu já sei: meu irmão vai ficar chateado. Vai brincar um pouco menos, sorrir um pouco menos, perder um pouco da paciência e vai ficar mais calado, numa introspecção aguda, sonhando com as oportunidades perdidas no jogo. Sem nem saber, ele vai telepaticamente ajudando o técnico e seus asseclas a relembrar dos erros, a refazer as jogadas, a preparar melhor aquele outro jogador, a pensar nas contratações milionárias, a rever as condições do campo e da concentração. É estranho de ver, de fora, porque não há uma sensação de partilha de dor. Você observa atentamente, pensando se há qualquer laço fraternal que faço você levar um pouco desse peso embora, apoiando-o neste momento infeliz. Nesta hora você lembra que a compensação chegará, pois se você achava ruim o dia da derrota, achará pior o dia da vitória.
O assunto é esse: meu time. As alegrias do meu time, a raça do meu time, as cores do meu time, o imbatível do meu time, o comentário que "não, isso é legal mesmo, mas o MEU TIME…", o dia do meu time, o país do meu time, o meu time, o meu time, o meu time. Quem mandou ficar triste quando ele estava triste? Porque, agora, quem está triste é você. Pior: você não tem armas para combater os comentários, porque só quem está atento nas tabelas dos campeonatos é que são os Jedis que podem revidar esses ataques. Um dia que o time é sensacional, mas daí um tio do outro lado da mesa solta que o histórico desse outro time no campo de um terceiro time é pior do que dos confrontos com aquele time. Daí começa um vai e volta de porcentagens, gostos, nomes de jogadores atuais e de outrora, cor das camisetas, receita dos ingressos no gramado e na venda de jogadores. Eles lutam com seus comentários até que um desista ou que alguma mãe/esposa/avó/filha/filho diga: vamos mudar de assunto? O que é prontamente atendido com a seguinte frase: viu o Felipe Massa neste último domingo?
O assunto da família brasileira é definido pelo Galvão Bueno!
Frisando ponto importante: meu irmão é semi-light, peso médio do futebol. Não há violência e ele não fica doente quando o time perde – até onde eu sei. Mas em compensação tem o meu padrinho. Este sim! Este em dia de jogo é um herói grego que descobrirá, no final do dia, que transou com a própria mãe e matou o pai. A sua tensão e atenção ao jogo se inicia na véspera, quando metamorfoses começam a acontecer. Pêlos crescem mais rápido pelo seu corpo, as cordas vocais tem manutenção extra durante o sono para agüentar a demanda do dia seguinte, os nervos fazem sessão de yoga para agüentar o tranco. E que tranco! Meu padrinho lê o jornal de manhã já imaginando as cagadas que o pessoal vai fazer no jogo, porque que não sei quem é um bando de isso, e os outros são um bando de aquilo. O adversário nem se fale, esses sim são mais bando de alguma coisa! Lá vai meu padrinho pro campo, armado de radinho, ingresso e três toneladas e mau-humor.
Dia de jogo do time do meu padrinho a família já fica com o dedo em cima do número da ambulância. Minha madrinha e os filhos já sabem dos malefícios que serão enfrentados no decorrer do período – apesar de que eles sofrem pelo mesmo time, até porque se sofressem para outro time haveria uma cisão na casa. Minha vovó pega o terço e manda bênçãos protetoras, temendo que algo aconteça (você acha que eu tô inventado?). Cada gol levado, não importa em que país do mundo você esteja, lá vem a voz do meu padrinho crispada num grito: "mas que zaga/goleiro/atacante filho da…!"
Imagine você o resto, porque acho que as palavras escritas não farão jus ao nervosismo lancinante do meu padrinho. Muito menos ao outro lado da moeda, a alegria de quando tudo acaba bem e tudo é festa, estrelas, amor e paz. Repetindo a comparação de alguns parágrafos atrás, se eu fosse estudar um personagem como Édipo, eu deixaria pra trás as referências academicistas e cinematográficas sobre este personagem emblemático e iria direto pra casa do meu padrinho, só tomando o cuidado de não me deixar levar no meio da peça e gritar: mas esse Tirésias é um tremendo filho da…!
Tenho outros parentes que também têm relações especiais com seus times, alguns mais parecidos com o meu irmão, outros como a minha mãe – que torce pro time do meu irmão porque ele é o caçula – e alguns que tentam ser como o meu padrinho, mas não chegam aos seus pés. É pouco sábio achar que tal devoção não exige trabalho árduo e contínua preparação, que não acaba no apito final ou nas intermináveis mesas de bate-papo de bola. Eu, do meu lado, escuto um comentário solto na rádio de notícias e guardo comigo, só pra deixar o padrinho e o mano contentes, de que eu participo de alguma forma dessa paixão que eles têm. E, é claro, sempre que o meu time ganha, eu dou aquela cutucada! Vai que isso é ser brasileiro. Eu que não quero ser acusado de ser falsificado e ter uma torcida inteira gritando: mas esse diretor é um tremendo filho da…!
Jurava que teria meu nome citado na crônica do nobre colega Andrei, pois tenho uma posição em relação a este esporte acima citado que já dividi com meus nobres colegas na sala de ensaio, mas já que ele se esqueceu de citar-me envio minha opinião sobre tal esporte:
Pão e Circo para o POVO…
Essa frase vem dos tempos da ROMA antiga quando o “povão” ía ao Coliseu ver as lutas entre os gladiadores e eram jogados pães para a galera comer enquanto assistia aos gladiadores se matarem na arena… (se não consegue vizualizar esta cena assinta ao filme “GLADIADOR” com Russel Crowe.)
Como o povo tinha comida e diversão não se preocupava com a corrupção dos governantes, com os problemas do Estado, com a situação de miséria em que viviam e com os demais problemas que existiam, pois tinham entretenimento, e isso era o que bastava…
Os governantes ficavam na tribuna de honra do coliseu rindo da alienação do povo e tramando novas maneiras de enriquecer a custa destes pobres mortais que tinham distração suficiente para que não fosse preciso se preocupar com mais nada…
O que mudou de lá até os dias atuais?
O Coliseu foi substituido pelos Estádios de Futebol e os gladiadores pelos times de futebol, e o “povão ” foi substituído pela galera que gasta uma grana em ingresso para vibrar por um bando de 11 homens que perca ou ganhem o jogo receberão seu salário no final do mês…
Não é que odeio futebol, mas é que odeio o fato de que se fala em futebol o dia inteiro, a semana inteira, o mês inteiro, o ano inteiro, seja na grande mídia televisiva, nos jornais, no trabalho, nas rodinhas de amigos, etc…
No trabalho é o mais engraçado, parece que se você não sabe do resultado dos jogos do final de semana você é um ET e não tem o direito de participar das rodinhas de discussão na segunda-feira no cafezinho e nos corredores da empresa, porque só se fala de futebol, futebol, futebol…
Ninguém quer comentar sobre política, a situação do país, a corrupção que existe desde os primórdios até hoje ou de outro assunto pois são todos assuntos chatos.
Ninguém lembra em quem votou na última eleição e se o seu candidato fez alguma coisa de útil no seu mandato, se o mesmo se envolveu em algum esquema de corrupção, agora todo mundo lembra na segunda feira da vitória do mengão, do pênalti perdido pelo Palmeiras, da goleada que o COXA levou, do gol que o ATLÉTICO perdeu, e o pior: A galera lembra de todos esses lances em detalhes minuciosos…
Não quero que me julguem um radical e que odeio futebol, e que acho que não precisamos de entretenimento, não é isso, só acho que deveria ser dada a devida atenção e divulgação pela grande mídia às artes como o TEATRO, MÚSICA, DANÇA, ARTES PLÁSTICAS e aos demais esportes que são lembrados apenas em época de olimpíadas…
Temos programas esportivos que só falam de futebol de manhã, no horário do almoço, a tardinha, a noite, na madrugada, mas programas culturais são mínimos…
Jáo fui a baixada assistir jogos do Atlético paranaense, time para qual torço, mas não sou torcedor fanático a ponto de ir a todos os jogos, saber os resultados, ter uniforme do time etc…E também simpatizo com o time do SÃO PAULO, time o qual assisto alguns jogos pela TV…
É bacana de vez em quando assistir a uma partida de futebol, mas o fanatismo que é imposto pela grande mídia ao povo é o que me incomoda…
Não sei se notaram, mas a COPA DO MUNDO é sempre em ano de eleição, que coincidência né ?
Falemos um pouco de outros assuntos além de futebol, é apenas isso o que peço…
Abraços – Vitor Hugo
E a goleada do São Paulo ontem, hein?
4 x 0 em cima do Vasco
com gol de pênalti do Rogério Ceni e tudo…
Áh lôco meu….
muito massa….
hehehehe
Aplausos para o Vitor!!!
Assim como o Andrei, já me deparei várias vezes com os comentários e situações inusitadas que ocorrem pré, durante e pós uma partida de futebol e, apesar de tb ser alheia a fatos futebolísticos, escuto com atenção para ver até onde chega o fanatismo e dou risada de tudo isso.
Mas, assim como o Vitor, e extravazando meu lado revoltado, tb acho que essa paixão nacional mascara os grandes problemas do país…. o povo é cego e tem memória curta… uma pena….
Bjos a todos
PS: não sou fanática por futebol, mas por volei sim….hehehe… doeu o quarto lugar na liga mundial……hehehehe
Hahaha compartilho do mesmo desinteresse por futebol (salvo carnaval – q eu adoro! claro, nao as escolas de samba chatéeeerrimas desfilando na televisão, mas sim os diasinhos de folga e muita festa). Me identifiquei muito com as notícias escutadas no rádio só pra ter o que discutir com alguns e pra falar q eu torço por algum time….
parabéns pelo texto! =]