Vocês lembram d"O Sexto Sentido"? Um filme bacana, que consegue manter o suspense presente com ferramentas sutis e, mesmo falando de fantasmas, não precisa de efeitos especiais muito espalhafatosos. Todo mundo saia do cinema dizendo por aí que o filme era bom, mas o final era incrível! Com essa perspectiva, é óbvio que você vai assistir tentando sacar o final antes de acontecer, uma coisa meio que investigar o filme enquanto ele acontece, coletando as evidências que vão passando pra você. No dia que finalmente fui ao cinema, meu Sherlock Holmes estava de férias e não consegui desvendar o final e me surpreendi. Bom filme. Se você ainda não viu, assista: o final é surpreendente! Hehehehe
Este não é um artigo sobre este filme, é só porque existe uma cena nele – não é no final – que eu gosto muito e acho sintomático para o assunto de hoje. Na primeira cena em que acontece uma apresentação de teatro na escola, quando o professor termina de falar e anuncia o início da peça, a câmera mostra a platéia de pais. Todos, em uníssono, pegam suas filmadoras e começam a registrar seus filhos. Isso é um fenômeno bem real, testemunhado recentemente numa festa junina em algum colégio qualquer. Disso eu não sei bem o que achar. Talvez a geração dos pais de agora esteja tão acostumada a ver a realidade pela tevê que seus filhos pareçam mais reais filmados do que ao vivo. Talvez estejamos tão ocupados que não saibamos mais viver o presente e queremos guardar cada momento para usufruir na posteridade – uma idéia bastante tacanha de que a sua vida só começara a acontecer mais pra frente, sempre impedindo que você viva o agora.
Ainda mais agora, com o surgimento das mini-filmadoras, parece que cada vez mais deixamos nossa memória no celular. Antes eram só os números, não é? Você lembra qual é o telefone do seu amigo, se você tiver que ligar para ele de outro aparelho? Mas agora é além: é o show, é o aniversário, é o jantar, é cada segundo importante que deve estar registrado e orkutado, youtubado, twittado, facebooketado, bloggado. Transferimos literalmente nossa memória para o celular! Foi uma surpresa encontrar um celular novo cuja propaganda celebra isso.
Será que sou o único assustado de ir a um show de música bastante intimista, no Paiol em Curitiba, onde todos sentam pertinho do músico, e ver muitos rostos iluminados pela tela do celular? Será que sou o único assustado, inclusive, por perceber isso na hora que o meu próprio rosto estava iluminado por esta mesma razão?
Sim, senhoras e senhores, sou mais um escritor de blog chafurdando em hipocrisia. Pois este texto será bloggado, twittado, facebooketado (só não será orkutado porque os tempos daquele site parecem ter acabado, e não será youtubado porque ainda não tomei banho e estou com o cabelo enorme) e, desta maneira, transfiro um pedaço da minha memória para dentro da rede mundial para, quem sabe, lembrar no futuro do que eu estava pensando neste momento.
Nossa Andrei…
Ótima reflexão!!
Grande abraço…
Pois…. é importante ter opinião para tudo!!! Pra tudo… e sempre. Tipo essa! hehehhe